O jornalismo já não depende mais do jornalista da mesma
forma que o jornalista não pode mais depender só do jornalismo. Sei que isso
não é nenhuma notícia! Mas o cenário ficou ainda mais em evidência após eu
conversar com jornalistas experientes de várias partes e mídias do Brasil, com
fornecedores de materiais de imprensa e profissionais da área de comunicação
corporativa da indústria automobilística durante os 12 dias da trigésima edição
do Salão do Automóvel, encerrada no dia 18 de novembro.
A primeira parte dessa afirmação se deve ao já amplamente
conhecido fato de que nessa era digital, o jornalista não é o único provedor de
notícias. Você mesmo, se não é jornalista, pode contar quantas vezes já
produziu e compartilhou uma opinião, uma ideia ou até mesmo uma notícia nas
mídias sociais, há pouco tempo uma atividade mais restrita desse profissional
nas mídias tradicionais. Como já antecipavam Eric Schmidt e Jared Cohen, os
mais altos executivos da Google no livro The Digital Age, caberá às mídias
tradicionais o papel fundamental de ser a fonte mais confiável contra o avanço
das fake news.
Jornalistas de grande destaque em publicações impressas,
TVs, rádios e mesmo em sites de várias partes do País presentes no Salão me
contaram durante o evento sobre sua movimentação estratégica para ocupar e
ampliar seu espaço em mídias digitais ou sociais como um caminho mais seguro
para consolidar sua audiência, atrair apoio e assim manter-se na profissão.
Outros avançam em busca de um segundo ou mesmo terceiro meio de ganhar a vida
em diferentes áreas para a cobertura jornalística.
Mesmo profissionais da comunicação corporativa estão
buscando atualizar-se e ampliar seus braços para abranger novos desafios e
oportunidades nas empresas. Eu mesmo, após 25 anos atuando na promoção e na
reputação de grandes marcas do setor como a Mercedes-Benz, Chrysler, Dodge,
Jeep e mais recentemente a Volkswagen, além de continuar acompanhando o
desenvolvimento e participando das atividades do setor automotivo como
consultor de comunicação empresarial, aceitei um convite muito especial para
ser o gerente de comunicação da São Paulo Oktoberfest. O desafio é promover o
festival cultural alemão, em sua segunda edição e já consolidado no calendário oficial
paulistano. Cultura também é negócio que precisa muito de uma comunicação
abrangente e integrada.
Antes disso, há cerca de 5 anos, participei de uma convenção
internacional de comunicação na Alemanha, esperando sair dali com respostas
para todas as interrogações da era digital. Percebi rapidamente que colegas de
várias partes do mundo chegaram lá com a mesma expectativa. E de lá saímos
todos com a conclusão de que mesmo nos países mais avançados ninguém ainda
tinha a receita certa para dar certo na era da transformação digital. E parece
que ela ainda não foi escrita, apesar de contarmos com excelentes livros sobre
o assunto. Um deles é Conteúdo S.A. de Joe Pulizzi.
Enfim, após muitos conversas informais no Salão do Automóvel
- que obviamente não representam nenhuma pesquisa consolidada - sobre os
grandes terremotos nos mercados editoriais e nas empresas de norte a sul do
País, que transformaram e enxugaram as redações, agências e áreas de comunicação
das empresas, os colegas apontaram que o perfil do futuro jornalista ou
profissionais de comunicação em geral ainda não está claro.
Mas tanto jornalistas, fornecedores de serviços, executivos
e assessores de comunicação, experientes na divulgação e na cobertura da
inovação tecnológica do mercado automobilístico, entendem que a palavra certa
para o presente e para o futuro desses profissionais não é apenas movimentação,
formação e atualização digital. É reinvenção. E reinventar-se tanto na dimensão real e
digital ainda não é a resposta. É apenas o caminho estreito de hoje para o
futuro para todo e qualquer tipo de profissional que quiser chegar lá!
Reinventar-se demanda coragem, inteligência, paixão e
criatividade. Exige também capacidade de sonhar, tempo, saúde e principalmente
energia. O seu novo perfil, formação, valores e capacidade na nova dimensão
permanecem sendo uma boa pergunta na coletiva de imprensa global sem ainda uma
resposta segura em qualquer idioma. Enquanto isso, continua valendo uma boa conversa
entre seres humanos, uma boa entrevista e uma boa matéria ou mensagem para um
público que também busca suas respostas.