terça-feira, 20 de novembro de 2018

Eu faço parte dessa história, com muito orgulho

Nasci, cresci e amadureci com uma consciência negra. E tenho muito orgulho disso, mesmo sendo branco. Minha mãe, meu pai e meus irmãos trabalhavam demais para não deixar faltar nada em casa. Como sétimo dos filhos, ainda bebê, minha mãe contava com a ajuda espontânea e terna da Dona Geralda, vizinha nossa em Araçoiaba da Serra, para embalar o meninão aqui.

Eu lembro assim dos braços negros da Dona Geralda que me abraçam com carinho. Era uma voz melodiosa e tranquilizadora. Eu disse que era o sétimo filho, mas na verdade era o oitavo, considerando um filho adotivo que já era parte da família Santos. Aliás, ele já havia chegado bem antes de mim já carregando, por coincidência, o sobrenome da família.

Maurício dos Santos também era negro. Meu pai e mãe decidiram adotá-lo para libertar, ainda menino, dos maus tratos do padrasto e da madrasta. Era meu irmão contador de histórias, sempre sorrindo com vozeirão divertido e fazendo a família reunida cair sempre na gargalhada à luz das velas. Eu era seu orgulhoso fã também no futebol. Meu pai era técnico do time da vila em Casa Branca. Meus irmãos se destacavam em suas posições. O Maurício ainda mais, esperto, habilidoso e valente.

No dia antes de sua partida, há alguns anos, já pai de filhos crescidos, minha mãe e eu tivemos a última chance de vê-lo com vida no hospital. A enfermeira estranhou uma visita branca a um paciente terminal negro. Ela se assustou quando perguntada, minha respondeu naturalmente.: "É meu filho!". Eu expliquei a ela que o Maurício era meu irmão adotivo. Maurício olhou para nossa mãe, expressou a maior surpresa e satisfação, e foi embora no dia seguinte.

Nos meus primeiros anos de escola, eu lembro que tinha um coleguinha negro, mas não tive muito contato com ele. Já no Ginásio, o Osvaldo foi meu grande companheiro. Fazíamos trabalhos escolares juntos e criávamos grandes jogadas nas partidas dos campeonatos internos. Vários negros e negras fariam parte da minha história, sempre transmitindo até hoje muita alegria, confiança e liberdade.

O tempo passou, mas minha consciência negra não. Ao contrário, ela aumentou com muita satisfação. Meu sincero círculo de amizades hoje formado pela raça negra continua sendo uma fonte de alegria, orgulho, inspiração, com canções melodiosas e sorrisos calorosos. São grandes exemplos de vida, de paixão pelo que fazem e de sucesso em suas carreiras.

Aos meus irmãos e irmãs da honrosa raça negra, obrigado por permitir que eu faça parte, desde os meus primeiros anos de vida, de sua bela história de luta, trabalho, conquista e vitória.

(Na foto acima, Wesley Gomes, filho talentoso de meus amigos do peito, Luis Paiva e Vilma Gomes, e meu parceiro no Canal Sua História é a Nossa História, em visita ao Salão do Automóvel desse ano)


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