sábado, 7 de abril de 2018

A morte do Rio Esperança

Sempre que caminhava pelas agitadas ruas do centro de São Paulo há muitos anos,  eu costumava parar na frente das livrarias para ver os livros à disposição. Nunca vou esquecer do título de um deles, que nunca comprei e portanto nunca soube do seu conteúdo. "Não apresse o rio, ele corre sozinho".  Muitas águas passariam pela história do Brasil depois daquele dia. Passariam lentamente como o rio Tietê, que nasce limpo em Salesópolis mas chega à São Paulo sujo e contaminado.

Por mais de 20 anos atuando no jornalismo do mundo automobilístico em São Bernardo do Campo, eu iria acompanhar ali a nascente de um outro rio, o Rio Esperança. Nascia e corria sob a beleza de uma estrela brilhante. Suas águas limpas jorravam dos discursos empolgantes sobre os caminhões nas assembleias sindicais. O compromisso honesto era de manter o rio sempre limpo até chegar a Brasília, para matar a sede e garantir a saúde do povo brasileiro. Via ali muitos companheiros de trabalho, gente honesta e digna, movimentando as máquinas da produção de veículos, com muita esperança na melhoria do país, sonhando com  um futuro melhor para suas famílias, enquanto o rio corria sozinho e a estrela resplandecia.

As águas do Rio Esperança chegariam finalmente a Brasília. E a estrela subia e brilhava.

Mas enquanto os brasileiros se encantavam e se iludiam com o seu brilho,  não percebiam que as águas originalmente puras de São Bernardo do Campo começavam a ficar cada vez mais turvas, perdendo a transparência e seus valores à medida que invadia Brasilia. O Rio Esperança começou a poluir e a morrer.  Deixou Brasília e o Brasil inteiro morrendo de sede de esperança, sede de honestidade, sede de trabalho e de justiça. Sede de futuro.

Preciosa a imagem da nascente do Rio Tietê em Salesópolis. Horrível a imagem do Rio Tietê em São Paulo. Saudosa a lembrança das águas limpas da nascente do Rio Esperança em São Bernardo do Campo. Lamentável a sua condição quando correu em Brasilia e por todo o País, desviando-se dos princípios de sua nascente.  Contaminou a saúde, a autoestima e a moral nacional. Cheirou mal em todo o mundo. Diferentemente do Rio Tietê, ele acabou poluído até mesmo em sua nascente e por seus próprios fundadores.

Quanto à estrela, ela acabou caindo sozinha onde também nasceu, em São Bernardo do Campo.  O que foi já não é mais. Restam apenas saudades e desilusão. O Rio Esperança correu sozinho. E morreu sozinho

Um novo rio nasceu em Curitiba. Esse não vai correr sozinho.

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