segunda-feira, 23 de abril de 2018

Aquele livro que você nunca esquece


Achei um dia numa livraria de São Paulo, há mais de 30 anos atrás, um livro pequenininho como todos os pocket books, por um preço muito baixo, mas que teria um valor inestimável na minha vida no jornalismo. Word Pictures era o seu nome. Numa tradução não tão direta, eu chamaria de Quadros Verbais. Vou sempre me lembrar dele, especialmente nesse dia mundial do livro, instituído pela UNESCO em 1995. Ele me ensinou que não bastam apenas palavras. Elas precisam formar uma imagem clara ou um filme impactante sobre uma ideia na mente do leitor. São  por exemplo as analogias ou parábolas que há milênios são usadas com esse objetivo. O Evangelho, por exemplo, está cheio de parábolas que tem impactado a vida de milhões e milhões de pessoas por dois mil anos. Mas especificamente naquele livrinho de bolso, um quadro verbal está marcado em minha memória até hoje.  Uma menina mandou para o seu pai, que tinha acabado de se separar de sua mãe, uma carta reproduzindo, num quadro verbal, o novo contexto familiar. Mais ou menos assim. "É a mamãe quem está dirigindo o nosso carro agora, e não mais você, papai. Atrás, estou com meu irmãozinho. Mamãe está fazendo o melhor possível para cuidar da gente. Mas de repente vimos um outro carro vir inesperadamente na contramão e bater fortemente e de frente com o nosso carro. Mamãe está bastante ferida. Eu também, papai. E meu irmão não consegue mais falar. Mas antes do trágico acidente, papai, eu percebi quem estava dentro do outro carro. Era você e uma outra mulher". 

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Motoristas demais em conexão. Socorro!

Hoje em dia, para garantir uma direção segura no trânsito, estou mantendo um olho bem aberto na frente e outro no veículo de trás. Tem gente demais em conexão nos carros. Se perceber que o motorista, ou a motorista, de trás está conectado ou conectada ao celular, fico bastante esperto e procuro sair logo da frente de seu carro, mudando de pista. Isso porque a chance de o carro dela se conectar fortemente na traseira do meu carro é muito grande. A vida digital é necessária mas, se descuidarmos, faremos logo parte exclusivamente dela ou teremos um belo carro amassado.  Salve-se quem puder!!!

sábado, 7 de abril de 2018

A morte do Rio Esperança

Sempre que caminhava pelas agitadas ruas do centro de São Paulo há muitos anos,  eu costumava parar na frente das livrarias para ver os livros à disposição. Nunca vou esquecer do título de um deles, que nunca comprei e portanto nunca soube do seu conteúdo. "Não apresse o rio, ele corre sozinho".  Muitas águas passariam pela história do Brasil depois daquele dia. Passariam lentamente como o rio Tietê, que nasce limpo em Salesópolis mas chega à São Paulo sujo e contaminado.

Por mais de 20 anos atuando no jornalismo do mundo automobilístico em São Bernardo do Campo, eu iria acompanhar ali a nascente de um outro rio, o Rio Esperança. Nascia e corria sob a beleza de uma estrela brilhante. Suas águas limpas jorravam dos discursos empolgantes sobre os caminhões nas assembleias sindicais. O compromisso honesto era de manter o rio sempre limpo até chegar a Brasília, para matar a sede e garantir a saúde do povo brasileiro. Via ali muitos companheiros de trabalho, gente honesta e digna, movimentando as máquinas da produção de veículos, com muita esperança na melhoria do país, sonhando com  um futuro melhor para suas famílias, enquanto o rio corria sozinho e a estrela resplandecia.

As águas do Rio Esperança chegariam finalmente a Brasília. E a estrela subia e brilhava.

Mas enquanto os brasileiros se encantavam e se iludiam com o seu brilho,  não percebiam que as águas originalmente puras de São Bernardo do Campo começavam a ficar cada vez mais turvas, perdendo a transparência e seus valores à medida que invadia Brasilia. O Rio Esperança começou a poluir e a morrer.  Deixou Brasília e o Brasil inteiro morrendo de sede de esperança, sede de honestidade, sede de trabalho e de justiça. Sede de futuro.

Preciosa a imagem da nascente do Rio Tietê em Salesópolis. Horrível a imagem do Rio Tietê em São Paulo. Saudosa a lembrança das águas limpas da nascente do Rio Esperança em São Bernardo do Campo. Lamentável a sua condição quando correu em Brasilia e por todo o País, desviando-se dos princípios de sua nascente.  Contaminou a saúde, a autoestima e a moral nacional. Cheirou mal em todo o mundo. Diferentemente do Rio Tietê, ele acabou poluído até mesmo em sua nascente e por seus próprios fundadores.

Quanto à estrela, ela acabou caindo sozinha onde também nasceu, em São Bernardo do Campo.  O que foi já não é mais. Restam apenas saudades e desilusão. O Rio Esperança correu sozinho. E morreu sozinho

Um novo rio nasceu em Curitiba. Esse não vai correr sozinho.