terça-feira, 9 de maio de 2017

O discurso que convencia não convence mais

Era uma das muitas assembleias em portas de fábricas que eu assistia atentamente no final da década de 90. Como jornalista e metalúrgico, admirava a capacidade de discurso e de convencimento dos lideres sindicais que reuniam milhares de pessoas em frente das montadoras do ABC. Em cima do caminhão, um inflamado sindicalista gritava assim: "Você trabalhador, vai ter coragem de chegar em casa hoje e dizer para o seu filho: "Querido, papai hoje não levantou a mão para lutar por melhor salário e uma melhor condição de vida pra você" ? Os argumentos convenciam a todos. Era o Partido dos Trabalhadores.

Mas o tempo passou e o partido foi para o Poder.. As empresas já tinham planejado fazer muitos investimentos no País. Já não se fazia mais assembleias como antigamente. As vacas estavam gordas, com muito leite e muita carne. Foi uma verdadeira festa para o partido. O brasileiro não sabia que, como cantava Chico, "dormia a Pátria Mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações". As vacas públicas já começam ali mesmo a minguar.

Hoje, talvez aquele sindicalista sobre o caminhão poderia perguntar assim: "Trabalhador, você vai ter coragem de chegar em casa hoje e dizer para o seu filho: "Querido, papai vai continuar apoiando o nosso partido".  O que, filho? A corrupção? A Petrobrás? A economia destruída? O desemprego de mais de 13 milhões de trabalhadores?  O caos na Previdência Privada. Nossos líderes presos? O seu sonho de um Brasil melhor? Ora filho, você tá vendo muita coisa feia na mídia, hein. O Brasil tá muito bem. Nossos líderes são homens como a gente!

Os filhos de TODOS os brasileiros merecem melhor sorte da próxima vez. Não podemos mais levantar a nossa mão em favor daqueles que enfiaram a mão em nossos bolsos enquanto estávamos com as mãos levantadas em seu favor. O discurso inflamado continua existindo. Mas não convence mais. Vamos ser mais sérios a partir de agora! Por amor àquele menino que depende de nós! Ao final, aquele partido não é mais dos trabalhadores, é apenas do próprio partido e de todos que deixaram a vaca magra.

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