quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O triste fim do sonho vermelho

No princípio os princípios eram outros. Por mais de 25 anos, acompanhei pessoalmente a trajetória de um partido que cresceu e se fortaleceu sobre os caminhões de som na frente das fábricas do ABC paulista. Como metalúrgico e jornalista, observava e ouvia com atenção o eloquente líder dos trabalhadores mover multidões com seu discurso inflamado para evitar demissões, conquistar reajustes e aumentos salariais "para a classe trabalhadora". Milhares de pessoas eram convencidas a deixar seus postos de trabalho,  a parar a produção das fábricas imediatamente e ir para a greve, muitas vezes fechando estradas e chamando a atenção da mídia para lutar por  seus interesses.  Os discursos do então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC sobre os caminhões impactavam o Brasil inteiro, em função de sua retórica que apelava para as melhores condições de vida de todos os trabalhadores. Quem seria contra isso? Durante anos, aquelas constantes lutas e discursos emocionados ajudaram a dar a região os níveis salariais mais prósperos de todo o Brasil. Durante aquelas assembleias foi plantado o maior  sonho dos trabalhadores, o de ter seu respeitável  líder dentro e no comando do Governo para continuar lutando pela melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. Todos sonharam com o crescimento da economia, com a estabilidade no emprego e com aumentos dos salários. Sonharam acima de tudo com políticos mais honestos que se preocupassem de verdade com uma vida melhor para o trabalhador honesto. Sabemos, no entanto,  que todo poder absoluto corrompe. E foi exatamente isso o que aconteceu com os líderes do partido vermelho. Tão logo montaram no poder, apoiados e aplaudidos por milhões de brasileiros esperançosos, as coisas já não eram mais como no princípio. O que era da Nação e de seu povo passou a ser visto com olhos bem gordos. A competência na gestão pública não era critério básico. A corrupção foi institucionalizada. Virou coisa comum a busca desenfreada de benefícios próprios na administração do patrimônio público. A querida "companheirada" já não era mais a classe trabalhadora. Ela passou a representar apenas os colegas influentes e interessados em tirar o máximo proveito da situação.  O trabalho e o sonho do trabalhador ficaram no passado. O poder corrompeu completamente os criadores daquele belo sonho. Respaldado por sua respeitável historia de "lutas" e vitórias em  cima dos caminhões, o partido passou a considerar tudo legal a partir da cadeira do poder em Brasília. Ganhar dinheiro por fora, ora, não era mais pecado. Tudo podia ser justificado. E ao invés da concretização do sonho brasileiro, a realidade trouxe o pesadelo. Milhões de trabalhadores, incluindo os metalúrgicos, que acreditaram, e ainda acreditam, no bom discurso e na indicação de seu líder maior, seguem perdendo seus empregos. Não há mais discursos inflamados em assembleias sobre os caminhões que possam reverter esse quadro. O capital que pagava salários recebeu um golpe mortal. O país perdeu milhões e milhões de dólares em investimentos e a economia parou de crescer. Grandes, médias e micro-empresas fecharam suas portas ou estão capengando. Os salários de quem continua trabalhando estão encolhendo com a crise e a inflação. O consumidor perdeu a confiança e parou de comprar. Mas em todo esse cenário a democracia amadureceu e deu um golpe na corrupção e na incompetente administração pública. A maior parte dos brasileiros não aceitou  abrir mão de seu futuro apenas por causa de um belo passado de um partido. Afinal, o passado passa. O bom partido infelizmente se consolidou no poder como um partido mau. Ele entrou definitivamente para a história desse país como um exemplo de que não bastam bons princípios, boas intenções e bons discursos para multidões.  Não basta uma bela história. É necessário, acima de tudo, um bom e digno presente para se conquistar também um grande futuro. Lamentavelmente, o partido vermelho abandonou essas duas últimas coisas. E o sonho lançado sobre os caminhões das assembleias infelizmente foi desprezado e lançado por terra. Acabou.

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